Crônica: O debate, o texto dissertativo-argumentativo e a exposição de ideias

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Por: Sérgio Sant’Anna*

Quando não há argumentos, as opiniões são inválidas. Esta é a regra diante deste tipo de texto. Sim. O texto dissertativo-argumentativo. Aquele que a maioria dos vestibulares acaba exigindo para os vestibulandos possam ter acesso às universidades brasileiras. E o hoje o Exame Nacional do Ensino Médio ocupa o seu lugar de destaque quando tratamos deste tipo textual: trinta linhas no máximo; a estrutura composta de introdução, desenvolvimento e conclusão. Olha, na introdução não se esqueça da tese e da contextualização da mesma; no desenvolvimento apresente dois parágrafos com os seus argumentos; em seguida, na conclusão faz-se necessário a proposta de intervenção, ou seja, a solução para o problema apresentada pela tese.

Mas, não são apenas os elementos elencados no parágrafo acima que farão a diferença entre o seu texto e dos demais candidatos. Caso não haja um repertório sociocultural por parte do candidato, fica difícil para o mesmo argumentar. Sem esse embasamento, apresentado através das leituras realizadas ao longo do período escolar e da vida, além dos debates e o conhecimento científico galgado através destas fontes do saber, torna-se quase impossível para que o candidato, o aspirante há uma vaga na universidade atinja suas metas.

E, quando explicitamos sobre a construção do texto dissertativo-argumentativo, tratamos logo de somá-lo aos textos construídos de maneira oral. Todas as vezes em que difundimos nossas ideias através dos nossos cotidianos diálogos, estamos realizando a tarefa hercúlea de dissertar. Temos uma opinião, e esta é manifestada. È lógico que nem todas opiniões apresentadas são manifestadas e defendidas com os mais sólidos argumentos, principalmente quando este texto manifesta-se de maneira falada. Pois aqui a exigência é que o defensor da tese tenha-a de maneira clara e que seus argumentos já estejam organizados para que sua defesa possa ser brilhante. Como aquelas que são realizadas pelos membros do Judiciário ou pelos legisladores menos inflamados quando ocupam a tribuna da Casa de Leis.

Infelizmente, hoje em dia, a tarefa de argumentar, principalmente pelo Poder Legislativo, alcançou a péssima convicção de que agredir ao seu oponente de maneira enfática e sem decoro tornou-se a melhor maneira de defender seu posicionamento. Devido à falta de leitura e conhecimento de alguns, o que vemos nas Casas de Leis Municipais, principalmente, é esse descompromisso com a palavra e com o respeito. O nome do povo, do cidadão é elencado em primeira ordem, todavia com o discurso sai a excrescência toma conta do vocábulo, e a Língua Portuguesa, inculta e bela, assim como a arte de argumentar, aquela que nasce do “argenteo”, do brilho, da prata, do iluminar, acaba sendo inundada pelas as asneiras e sons claros através das vozes dos animais. É doloroso, hoje, assistir uma Sessão da Câmara, seja na esfera municipal ou nacional. Principalmente quando os legisladores desconsideram pareceres emitidos por Órgãos importantíssimos nas esferas jurídicas. E esse discordar, principalmente, por questões ideológicas, apadrinhamento, cargos barganhados etc.

É de suma importância que o debate seja feito, principalmente, quando tratamos da construção do seu texto dissertativo, da defesa das suas ideias, dos seus objetivos. E na esfera da disputa eleitoral, é muito mais importante, pois o povo vem se acostumando a ler apenas aquilo que é difundido pelas redes sociais, e nestas difusões, muitas mentiras são ventiladas, e sabemos que o cidadão é ludibriado, pois acredita nas telas como acredita em seus deuses. Como diria o genial semiólogo Umberto Eco: “As redes sociais deram vida à ignorância”. Não há como enxergar uma eleição clara, justa e limpa sem que o debate seja uma das ferramentas para que o cidadão tenha como forma de escolher o seu candidato. A exposição de ideias e a defesa das mesmas é fundamental para a construção de candidatos organizados e certos das suas ideias, estas em compromisso com a Justiça e com o Cidadão. Fugir do debate é argumentar que não se tem ideias ou que não há argumentos para defendê-las.

*Sérgio Sant’Anna é Professor de Redação no Poliedro, Professor de Literatura no Colégio Adventista e Professor de Língua Portuguesa no Anglo.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

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